sexta-feira, 16 de março de 2012

INTRODUÇÃO DO LIVRO OS MANDAMENTOS DE HOMENS NA IGREJA DE CRISTO


INTRODUÇÃO


Uma exposição não pode deixar de ser uma apologia, uma crítica e também uma confissão. (Anônimo).

O pastor e teólogo alemão, Dietrich Bonhoeffer, por expor suas ideias em oposição ao nazismo, foi preso e morto num campo de concentração nazista. Quando preso, em virtude de ter formação superior e ser reconhecidamente inteligente, foi colocado junto com outros intelectuais (BONHOEFFER, 1988).
Nesse período, Bonhoeffer procurou saber por seus companheiros de prisão o porquê de o Evangelho não ser bem aceito por pessoas de nível intelectual mais elevado. Considerando os mais variados motivos que possam demarcar a autonomia e liberdade de cada pessoa tomar suas decisões, encontrou também como motivo a questão da forma e do conteúdo. Ou seja, era notória a significativa diferença entre o conteúdo do que se anunciava e a forma como se fazia tal proclamação e como se vivia a mesma. Por conteúdo pode-se entender como sendo a essência, aquilo que existe de mais puro e que está em concordância com os fundamentos da religião cristã, ou, sua “maravilhosa graça”, segundo definiu Yancey (2007): “[...] O melhor presente do cristianismo ao mundo” (p.25). Mais especificamente falando, são os princípios bíblicos, principalmente os do Novo Testamento, e que demonstram uma observância aos ensinamentos de Jesus Cristo e também a toda a Bíblia, o livro sagrado dos cristãos. Já por forma, entende-se como sendo a roupagem, a qual pode ser traduzida como tradições, costumes, culturas, regras, rituais, entre outros. Ou, até mesmo como diria Jung (BENNET, 1985), a persona. Quanto mais forte, rígida e inflexível a forma, maior pode ser a distância para com o conteúdo.
De acordo com Bonhoeffer, esta desmedida atenção à forma, em detrimento do conteúdo, tem feito com que pessoas não consigam enxergar o Evangelho em sua proposta principal, a qual será abordada no próximo capítulo.
Jesus Cristo, em Sua peregrinação terrena, devido à Sua postura e missão, defendia valores e conceitos que iam de encontro aos dos escribas e fariseus, defensores de uma forma extremamente rígida e inflexível, os quais Ele também chamou de hipócritas. Em determinado momento chegou a chamá-los de “sepulcros caiados”, expressão que evidenciava o quanto estavam distantes da essência da sua própria religiosidade, no caso o judaísmo. Em Marcos 7.6-9, Jesus disse o seguinte aos fariseus:
[...] Bem profetizou Isaías a respeito de vós, hipócritas, como está escrito: Este povo honra-me com os lábios, mas o seu coração está longe de mim. E em vão me adoram, ensinando doutrinas que são preceitos de homens. Negligenciando o mandamento de Deus, guardais a tradição dos homens. E disse-lhes ainda: Jeitosamente rejeitais o preceito de Deus para guardardes a vossa própria tradição.
Se Bonhoeffer estivesse em nosso tempo ficaria estarrecido ao ver como essa diferença se amplia a cada momento.
Trabalhei para mostrar que quanto maior a distância entre forma e conteúdo, maior a abertura para propagação de falsos conceitos e mandamentos humanos sobre a Igreja de Cristo. Convém ressaltar que os falsos conceitos nada têm a ver com doutrinas, pois, por mais que se diferenciem de uma denominação evangélica para outra, possuem, nem todas é claro, argumentações bíblicas e teológicas, que até certo ponto as fundamentam. Quero, no entanto, fazer menção às interpretações desprovidas de uma boa exegese bíblica e adequada interpretação teológica. Essas, sem base nas Escrituras Sagradas, põem a organização igreja acima do valor humano, desqualificando sua natureza e seu universo particular; mas não de forma genérica. Em um momento assim não podemos nos esquecer de uma frase famosa de Gandhi: “No vosso Cristo eu creio; eu não creio é no vosso cristianismo” (ARAÚJO FILHO, 1987, p.23).
Em uma aplicação à psicologia da gestalt, podemos comparar forma e conteúdo com figura e fundo. Ou seja, a figura é aquilo que está na estampa, e o fundo o que está na essência e que, infelizmente, em várias situações encontra-se escondido.
O objetivo principal deste livro é elucidar que o distanciamento citado acima tem trazido prejuízo aos cristãos evangélicos e, naturalmente, ao cristianismo, no que se refere a uma divulgação empobrecida pela exagerada defesa e observância da forma (figura) em desarmonia com seu conteúdo (fundo). Segundo os orientais, desarmonia é sinal de doença, justamente por estabelecer um desequilíbrio entre o que está por fora e o que está por dentro. Entre o que uma pessoa fala e o que verdadeiramente pensa e sente. É unânime a resposta quando pergunto em algumas igrejas, onde faço minhas ministrações, se os presentes acham que a Igreja de hoje encontra-se saudável. A resposta geralmente é “não”.
Alguns desses religiosos se mostram resistentes em fazer rupturas ou promover mudanças de paradigmas em suas formas, pensando que estas ameaçariam o conteúdo de sua fé. Com isso, tornam-se inflexíveis, rígidos, fazendo defesas desprovidas de argumentos bíblicos, teológicos e racionais, o que pode desencadear forte tendência à hipocrisia e à demagogia. Esta postura não só favorece o surgimento de falsos conceitos fortalecendo os mandamentos de homens, como também promove um impacto negativo na Igreja de Jesus Cristo.
Ao longo desta exposição, procurarei mostrar o quanto tem sido difícil para pessoas sinceras, na busca por experiência religiosa, conviver e aceitar o dualismo existente em cada ser humano; e que por mais forte e transformadora que seja tal experiência, o homem continua sendo um ser limitado e imperfeito, ou seja, um pecador. A conversão religiosa não anula a nossa humanidade. Quando abordo acerca do dualismo existente em nós, refiro-me ao bem e ao mal, ou a luta entre uma nova consciência (tendenciosa ao bem), com novos valores e a natureza pecaminosa, imperfeita e tendenciosa ao mal, que parece que nunca se converterá (e com certeza aqui nesta vida não irá). Seria o nosso lado corruptível. A difícil harmonia entre humanidade e vida cristã tem favorecido os mandamentos de homens devido a uma negação da primeira, e, consequentemente, tem provocado o adoecimento e o esfriamento religioso.
Para realizar este trabalho fiz uso de toda experiência adquirida como atuante no contexto cristão evangélico na função de pastor e também das experiências obtidas no campo da Psicologia. Foram úteis as experiências adquiridas em mais de vinte anos como pastor, atuando no ensino e como capelão do Hospital Evangélico do Rio de Janeiro, onde permaneci de março de 1989 a setembro de 1999. Além das adquiridas no curso de especialização em Análise Transacional (202), nos anos de estudos na faculdade de Psicologia e nas experiências obtidas na direção do INSTITUTO DE TREINAMENTO DE LÍDERES (ITL), no qual ministro os seguintes cursos: CURSO SAÚDE EMOCIONAL E VIDA CRISTÃ, A PERSONALIDADE HUMANA: COMO SE FORMA, COMO SE DEFORMA E COMO SE TRANSFORMA (Uma Visão Bíblica e Psicológica) e TREINAMENTO EM CAPELANIA HOSPITALAR E ESCOLAR. Em todos estes cursos, além dos seus respectivos temas, também procuro abordar a identificação e a conscientização de como os mandamentos de homens estão, em algumas circunstâncias, se sobrepondo aos mandamentos de Cristo em Sua Igreja. De igual modo, como os mesmos se constroem e como as expressões da forma podem sofrer uma contextualização sem qualquer prejuízo ao seu conteúdo. Não poderia deixar de lado, é claro, as experiências obtidas nos anos de atendimento psicológico em clínica.
No capítulo 2 você verá uma chamada em letra maiúscula intitulada UMA PAUSA PARA A PSICOLOGIA: UM RECURSO NECESSÁRIO. É um espaço que usarei para fazer uso de uma linha da psicologia chamada de Análise Transacional.   Creio ser interessante você compreender como funciona esta abordagem. Ela é simples, interessante e de fácil assimilação.
Penso que este trabalho poderá dar uma contribuição para os cristãos evangélicos, visto que o mesmo se refere a uma pesquisa dentro deste contexto, e que procura clarificar o quanto o cristianismo e os cristãos estão perdendo com uma prática religiosa que tem contemplado bastante a forma em detrimento de seu conteúdo.
Uma exposição que por mais que contenha uma apologia, devido, naturalmente, a difícil virtude da imparcialidade, e que se caracteriza principalmente por uma crítica e uma confissão, poderá ser também útil ao meio científico. Haja vista que minha identificação com a ciência da psicologia, não me deixa livre de uma aplicação de seus conceitos. Nem poderia, pois a mesma também faz parte de minha vida, numa busca pela harmonia entre a fé religiosa e sua prática, e a credibilidade na ciência da psicologia, resguardando o devido direito e autonomia da respeitosa crítica sincera e honesta a uma e à outra.
Gostaria de abordar com maior profundidade o tema proposto, entretanto, preciso deixar bem claro que o objetivo deste livro é identificar alguns dos mandamentos de homens mais voltados para as questões psicológicas, dando origem a comportamentos não saudáveis, e alguns de seus prejuízos, tanto para os cristãos quanto para a Igreja de Cristo. Não pretendo encerrar tal assunto (nem poderia ter tal pretensão), mas apenas iniciá-lo, permitindo-me o direito de enfatizar, de maneira mais específica em algumas outras obras já em andamento, alguns dos temas aqui mencionados.

quinta-feira, 8 de março de 2012

SAÚDE EMOCIONAL E VIDA CRISTÃ - UMA HARMONIA NECESSÁRIA


SAÚDE EMOCIONAL E VIDA CRISTÃ - UMA HARMONIA NECESSÁRIA


     Este ministério tem sido durante muitos anos exercido em nome desta harmonia. E tal necessidade ocorre porque para muitos que se convertem passam a ter uma concepção errada do que seja essa caminhada na fé em Cristo. É preciso deixar bem claro que conversão não tira a nossa humanidade. Por tal motivo, o crente, que tanto busca a comunhão com o Senhor deve atentar para este lado humano que ainda continua em nós lutando contra  o Espírito que também em nós habita.  Assim, quando o crente cuida da sua área emocional ao mesmo tempo está contribuindo par uma vida cristã saudável, porque onde houver um distúrbio emocional haverá um distúrbio espiritual. Você não conhece um crente desequilibrado emocionalmente que seja equilibrado espiritualmente.  
      Neste curso você terá a oportunidade de se conhecer melhor. Você se conhece? Quem é você quando ninguém está olhando? Verás que existe toda uma série de comportamentos para que não se olhe para dentro da alma e possa ver o que nela se encontra. Veja a oração do salmista:  “Sonda-me ó Deus e vê o que há no meu coração.”. Sl. 139:23.  Costumo dizer que o grande perigo desta oração é que Deus pode resolver respondê-la. E se o Senhor responder que dentro de você existe uma tristeza há muitos e muitos anos? E você sempre ouviu que “o crente deve estar sempre sorrindo mesmo quando não dá”.  Caso você resolva esconder uma tristeza verdadeira e demonstrar uma alegria que não existe, você, crente que conheceu A Verdade, estará vivendo uma mentira. Isto tem um preço muito alto, porque “A esperança que se adia, faz adoecer o coração...” Prov. 13:12. Isto significa que se esta tristeza for autêntica ela precisa ser sentida, chorada, pois “Há um Tempo Determinado Por Deus Para Todas as Coisas” (Ecl. 3). Lá diz que “há tempo de chorar”, e ainda afirma que “há tempo de prantear”. Se quando existe este momento em sua vida o que você resolve é rir, saiba que estará fazendo um grande mal à sua vida. Isto é viver uma mentira.
         Talvez como resposta à esta oração do Sl. 139:23 o Senhor possa responder que existe uma mágoa profunda em sua alma. E o que você faz com isso?  Muitos dizem que já perdoaram, mas ao verem a pessoa objeto desta mágoa sentem o que pensavam estar resolvido. O que fazer então?  Em Prov. 10:18 diz: “O que encobre o ódio tem lábios falsos...”. Não seja um crente que possa, segundo a Palavra, ser enquadrado como falso. Você nasceu para viver a verdade.  
    No CURSO SAÚDE EMOCIONAL E VIDA CRISTÃ trataremos como SER CRENTE E SER GENTE AO MESMO TEMPO. É possível, acredite.
     Que o Senhor possa estar em tua vida. E que a difícil harmonia entre a VIDA CRISTÃ e a SAÚDE EMOCIONAL  possa ocorrer em sua vida.
     O CLAMAR É DO HOMEM, O RESPONDER É DO SENHOR.  Pode ser que a resposta do Senhor para sua vida esteja neste curso.
     Deus te abençoe.

PAULO CESAR PEREIRA (PASTOR E PSICÓLOGO)
Professor do CURSO SAÚDE EMOCIONAL E VIDA CRISTÃ

segunda-feira, 5 de março de 2012

"A CURA GAY" , por Hélio Schartsman na FOLHA DE S. PAULO


Confira a coluna do jornalista Hélio Schwartsman da Folha de São Paulo intitulada "A Cura Gay"
Texto publicado no jornal Folha de São Paulo, em 01/03/2012, pelo jornalista Hélio Schwartsman.
A CURA GAY
O clima é de guerra. De um lado, estão os gays e os Conselhos de Psicologia, em suas vertentes federal e regionais, de outro, os cristãos, mais especificamente o povo evangélico. O tema do embate é (aqui não há como evitar as aspas) "a cura da homossexualidade".
O certame teve início nos anos 90, quando militantes do movimento gay, em particular a Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais (ABGLT), começaram a denunciar aos conselhos os autointitulados psicólogos cristãos, que prometiam curar homossexuais.
A ABGLT pedia punições a esses profissionais com base no Código de Ética do Psicólogo, que, em seu artigo 2º, b, proíbe: "induzir a convicções políticas, filosóficas, morais, ideológicas, religiosas, de orientação sexual ou a qualquer tipo de preconceito, quando do exercício de suas funções profissionais".
Em 1999, depois de alguns casos rumorosos na mídia, o Conselho Federal (CFP) baixou a resolução nº 001/99, que não deixa nenhuma margem a dúvida:
"Art. 2° - Os psicólogos deverão contribuir, com seu conhecimento, para uma reflexão sobre o preconceito e o desaparecimento de discriminações e estigmatizações contra aqueles que apresentam comportamentos ou práticas homoeróticas.
Art. 3° - Os psicólogos não exercerão qualquer ação que favoreça a patologização de comportamentos ou práticas homoeróticas, nem adotarão ação coercitiva tendente a orientar homossexuais para tratamentos não solicitados.
Parágrafo único - Os psicólogos não colaborarão com eventos e serviços que proponham tratamento e cura das homossexualidades.
Art. 4° - Os psicólogos não se pronunciarão, nem participarão de pronunciamentos públicos, nos meios de comunicação de massa, de modo a reforçar os preconceitos sociais existentes em relação aos homossexuais como portadores de qualquer desordem psíquica".
Evidentemente, a briga continua, mas agora no plano da opinião pública e do Legislativo. Além de nos bombardear com e-mails sobre a "perseguição" a psicólogos cristãos, os evangélicos tentam no Congresso aprovar um projeto de decreto legislativo (PDC 234/11) para sustar artigos da resolução do CFP.
Vale observar que o proponente da matéria, o deputado João Campos (PSDB-GO), também tem projetos de decreto para derrubar a decisão do Supremo Tribunal Federal que legalizou as uniões estáveis homossexuais e a que autorizou as marchas da maconha.
A iniciativa do parlamentar social-democrata (sim, há ironia no adjetivo) é uma tremenda de uma bobagem. Da mesma forma que um médico não pode hoje sair por aí dizendo que cura a doença de Huntington e um físico está impedido de afirmar que faz o tempo correr para trás, um psicólogo não pode proclamar que possui terapias efetivas contra o que seu ramo de saber nem ao menos considera uma doença. Não se pode bater de frente e em público contra os consensos da disciplina.
Não existe algo como psicologia cristã, hidrostática católica ou cristalografia judaica. Idealmente, juízos científicos se sustentam na racionalidade amparada por evidências (mas a questão é mais complicada, como veremos ao final do artigo).
É claro que a ciência, ao contrário das religiões, não trabalha com dogmas. Um pesquisador que pretenda provar que a homossexualidade é uma doença pode tentar fazê-la em fóruns apropriados, como congressos e trabalhos científicos, e sempre apresentando argumentações técnicas, cuja validade e relevância serão julgadas procedentes ou não por seus pares. Se ele os convencer, muda-se o paradigma. Caso contrário, ou ele abandona o assunto ou deixa de falar na condição de psicólogo.
Como cidadão, acredito eu, todos sempre poderão dizer o que bem entendem --além de fazer tudo o que não seja ilegal. Padres e pastores vivem afirmando que a homossexualidade é pecado sem que o céu lhes caia sobre a cabeça. É claro que a ABGLT protesta e de vez em quando um membro do Ministério Público pode tentar alguma estrepolia, mas isso é do jogo. Apesar de alguns atritos, a liberdade de expressão vem sendo relativamente respeitada no Brasil nos últimos anos, como o prova a decisão do STF sobre a marcha da maconha que o representante do PSDB quer derrubar.
Vou um pouco mais longe e, já adentrando em terrenos hermenêuticos menos sólidos, arrisco afirmar que nem o Código de Ética nem a resolução do CFP impedem um psicólogo de, em determinadas condições, ajudar um homossexual que busca abandonar suas práticas eróticas.
Imaginemos um gay que, por algum motivo, esteja profundamente infeliz com a sua orientação sexual e deseje tornar-se heterossexual. O dever do profissional que o atende é tentar convencê-lo de que não há nada de essencialmente errado no fato de ser gay. Suponhamos, porém, que o paciente não se convença e continue sentindo-se desajustado. Evidentemente, ele tem o direito de tentar ser feliz buscando "curar-se". E seu psicólogo não está obrigado a abandonar o caso porque o paciente não aceita a ciência. Ao contrário, tem o dever ético de fazer o que estiver a seu alcance para diminuir o sofrimento do sujeito.
O que a resolução corretamente veta é que o psicólogo coloque na cabeça de seus pacientes a ideia de que ser gay é uma falha moral que pode e deve ser revertida. Impede também que ele faça propaganda em que promete terapias efetivas.
Dito isto, não acho uma boa estratégia a do movimento gay de vincular a defesa dos direitos de homossexuais a uma teoria científica. Este me parece, na verdade, um erro grave.
Para começar, a ciência está calcada em hipóteses que podem por definição ser refutadas a qualquer momento. Vamos supor que o fundamento lógico para eu recusar a discriminação contra gays resida na "evidência científica" de que a homossexualidade tem componentes genéticos e ambientais, não sendo, portanto, uma escolha que possa ser modificada. Imagine-se agora que alguém demonstre de forma insofismável que tais evidências estavam erradas. O que ocorre neste caso? A discriminação fica legitimada?
Não é preciso puxar muito pela memória para lembrar que movimentos por direitos civis e "ciência" (sim, fora dos manuais de epistemologia, ela é uma atividade humana como qualquer outra que caminha ao sabor de circunstâncias políticas e constructos sociais) já estiveram em lados diferentes das trincheiras. Até 1990, a Organização Mundial da Saúde listava a homossexualidade como uma doença mental. Os psiquiatras americanos faziam o mesmo até 1977. Não sei se recomendava ou não o exorcismo, mas certamente autorizava profissionais da saúde mental a tentar a "cura".
O argumento contra a discriminação de minorias precisa ser moral. É errado discriminar gays, negros e membros de qualquer seita religiosa porque não gostaríamos de sofrer tal tratamento se estivéssemos em seu lugar.
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